O Prof. Breno Magalhães Freitas e o pós-doutorando Antonio Diego Bezerra, ambos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, participaram de ampla pesquisa cujos resultados demonstram os benefícios da biodiversidade para a produção agrícola. O estudo, que envolveu mais de 100 pesquisadores de vários países, foi publicado na Science Advances ‒ do grupo editorial Science, um dos mais prestigiados do mundo ‒ e divulgado nesta quarta-feira (16).
De acordo com a publicação, durante as duas últimas décadas, aproximadamente 20% da superfície cultivada da Terra se tornou menos produtiva. Agora, o grupo de cientistas coordenados pela Universidade de Würzburg (Alemanha) e pela Eurac Research (centro de pesquisa privado de Bozen, na Itália) confirmaram as vantagens da biodiversificação: áreas agrícolas mais ricas em biodiversidade são mais protegidas de insetos prejudiciais, promovem a polinização e produzem melhores colheitas. O artigo é intitulado “A global synthesis reveals biodiversity-mediated benefits for crop production” (“Uma síntese global revela benefícios mediados pela biodiversidade para a produção agrícola”, em tradução livre).
“O estudo mostra que os agricultores devem se esforçar não somente para minimizar qualquer impacto negativo sobre as abelhas e outros insetos benéficos dentro e no entorno das áreas de cultivo, mas também promover e aumentar a sua presença em toda a paisagem agrícola”, diz o Prof. Breno Freitas.
ÁREAS ANALISADAS ‒ Na investigação, os ecologistas, biólogos e agrônomos compararam dados de cerca de 1.500 áreas agrícolas ao redor do mundo, como campos de milho das planícies americanas, plantios de canola no sul da Suécia, plantações de café na Índia, de manga na África do Sul, de cereais nos Alpes e de acerola no Nordeste do Brasil, dentre vários outros.
Eles analisaram dois serviços ecossistêmicos (ou seja, processos regulados pela natureza que são benéficos e gratuitos para a humanidade): o serviço de polinização fornecido por insetos silvestres e o serviço de controle biológico de pragas, que neste caso consistiu na capacidade de um ambiente usar artrópodes predatórios presentes no ecossistema para se defender de insetos prejudiciais.
Os resultados mostraram que em paisagens heterogêneas ‒ onde a variação de cultivos, cercas-vivas, campos e árvores é maior ‒ os polinizadores silvestres e insetos benéficos são mais abundantes e diversificados. Assim, não somente a polinização e o controle biológico aumentam, como também a produção agrícola.
Por outro lado, monoculturas foram a causa de aproximadamente um terço dos efeitos negativos sobre a polinização devido à simplificação da paisagem (medida pela perda da “riqueza de polinizadores”). Esse efeito é ainda maior em relação ao controle de insetos prejudiciais aos cultivos, onde a perda da “riqueza de inimigos naturais” representa 50% da consequência total da simplificação da paisagem.
ESSENCIAL ‒ “Nosso estudo mostra que a biodiversidade é essencial para assegurar a provisão dos serviços ecossistêmicos e para manter uma produção agrícola elevada e estável”, explica Matteo Dainese, biólogo da Eurac Research e primeiro autor da pesquisa. “Por exemplo, um agricultor pode depender menos de agrotóxicos para controlar insetos prejudiciais se os controles biológicos naturais forem incrementados por meio de uma biodiversidade maior na agricultura.” Os pesquisadores recomendam a proteção dos ambientes cuja saúde é mantida pela biodiversidade e a diversificação dos cultivos e das paisagens o máximo possível.
“Sob as condições futuras das mudanças globais já em curso e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, o valor da biodiversidade no meio rural vai se tornar ainda mais importante assegurando resiliência contra os distúrbios ambientais”, destaca o ecologista animal Ingolf Steffan-Dewenter, do Departamento de Ecologia Animal e Biologia Tropical da Universidade de Würzburg. “Nosso estudo fornece forte apoio empírico aos benefícios potenciais de novos caminhos para uma agricultura sustentável, com o objetivo de compatibilizar a proteção da biodiversidade e a produção de alimentos para uma população humana crescente”, conclui.
EGRESSOS ‒ Breno Magalhães Freitas possui graduação em Engenharia Agronômica e mestrado em Zootecnia, ambos pela UFC, além de PhD pela University of Wales College of Cardiff, na Grã-Bretanha. É pesquisador em produtividade do CNPq, membro da Iniciativa Brasileira dos Polinizadores, membro do Conselho da International Comission for Plant-Pollinator Relationship e atuou como Coordinating Leader Author da IPBES – Intergovernmental Platform for Biodiversity and Ecosystem Services das Nações Unidas para a a temática dos polinizadores, polinização e produção de alimentos.
Antonio Diego Bezerra é graduado em UFC , onde também concluiu mestrado e doutorado em Zootecnia. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em abelhas e polinização.
BRASIL ‒ Além da UFC, participaram pesquisadores de outras cinco instituições brasileiras: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade de Brasília (UnB), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT).
Fonte: Prof. Breno Freitas, do Departamento de Zootecnia ‒ e-mail: freitas@ufc.br
Publicado originalmente no Portal da UFC.