Por Vanessa Alves
Estudante do 6º semestre do curso de Jornalismo da UFC e bolsista da Divisão de Comunicação da PROGRAD-UFC
Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará, Camila Mont’Alverne Barreto de Paula Pessoa é doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde é pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE). Além disso, ela fez um estágio de doutorado sanduíche na Universidade da Antuérpia, na Bélgica. Atualmente, Camila realiza a pesquisa de pós-doutorado no Reuters Institute for the Study of Journalism, ligado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, trabalhando no projeto Trust in News (Confiança nas Notícias).
No projeto, com duração de três anos, a pesquisadora de comunicação política estuda as variáveis e as características demográficas dos diferentes tipos e níveis de confiança nas notícias a partir da perspectiva de pessoas da Índia, do Brasil, dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. A rotina de Camila consiste, principalmente, em coletar dados quantitativos, por meio de pesquisa survey, e qualitativos, mediante entrevistas e grupos focais.
Camila e a equipe de pesquisa também implementam experimentos para estudar quais intervenções poderiam ser utilizadas para melhorar o nível de confiança nas notícias nos países supracitados. A partir dessa coleta de dados, os pesquisadores do projeto produzem artigos científicos com discussões sobre os dados obtidos e relatórios públicos voltados para policymakers (formuladores e gestores de políticas públicas) e pessoas que trabalham em redações, além da possibilidade de acesso pelo público mais amplo.
PESQUISA – Camila cursou a graduação em Jornalismo na UFC entre 2010 e 2013. No segundo semestre do curso, foi bolsista de extensão do projeto TVez: Educação para o uso crítico da mídia, sob coordenação da Profa. Dra. Inês Vitorino e da Profa. Dra. Luciana Lobo.
Do 4° semestre até o fim da graduação, a pesquisadora foi bolsista de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa em Política e Novas Tecnologias (PONTE/UFC), coordenado pelo Prof. Dr. Jamil Marques, que viria a ser orientador de mestrado, também na UFC, e de doutorado, na UFPR. Hoje, o projeto é denominado Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE) e está vinculado à UFPR, tendo Camila como colaboradora.
Para Camila, o Prof. Dr. Jamil Marques foi o docente mais marcante para o desenvolvimento como pesquisadora. “Foi quem me abriu as portas para a pesquisa no 4º semestre da graduação e com quem continuo trabalhando. Temos muitas pesquisas em conjunto, várias publicações e projetos desenvolvidos e em desenvolvimento. Ele é responsável por boa parte da minha formação, por incentivar o trabalho científico meticuloso e o interesse em expandir a comunicação dos nossos resultados e a qualidade de nossas pesquisas”, afirma a doutora em Ciência Política.
A egressa da UFC recebeu menção honrosa na edição de 2017 do Prêmio Compolítica, concedida pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política – Compolítica, pela dissertação (mestrado), realizada na UFC, “Pródigo em decisões contra o interesse público”: imagem pública, agendamento e enquadramento do Congresso Nacional nos editoriais dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Em 2021, Camila conquistou o Prêmio Compolítica de Melhor Tese com o trabalho de doutorado “A imprensa como agente interessado na reforma política: um estudo sobre a cobertura noticiosa e editorial de Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo (1989-2017)”, orientado pelo Prof. Dr. Jamil Marques no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPR. A tese, em decorrência do Prêmio, foi publicada em forma de e-book pela Compolítica em parceria com o Selo PPGCOM/UFMG.
OPORTUNIDADE – Ao ingressar no curso de Jornalismo, Camila já pensava na possibilidade de fazer mestrado e doutorado, mas sem a certeza de que seguiria a carreira acadêmica. Embora se considere uma pessoa curiosa e tenha na família alguns pesquisadores, a jornalista pensa que a escolha por trabalhar com pesquisa abrange mais alguns fatores. Ela considera que o acesso à Bolsa de Iniciação Científica durante a graduação foi fundamental para definir o que gostaria de estudar e a ajudou no encaminhamento para o mestrado e o doutorado.
“Pode haver predisposição para a pesquisa, mas, se não existem oportunidades, incentivos, isso não necessariamente leva ao desenvolvimento do interesse pela carreira. Acho que meu caso é um bom exemplo de resultado quando há algum tipo de política dentro da universidade vindo dos Ministérios da Educação, da Ciência e Tecnologia para a formação de jovens pesquisadores desde a graduação”, declara Camila.
Apesar de sempre desejar ter uma experiência fora do Brasil, a qual foi possível por meio do doutorado sanduíche com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), antes, Camila não tinha a certeza de hoje do desejo de desenvolver a carreira no exterior.
Em sua opinião, os pesquisadores formados no Brasil costumam ser muito versáteis, uma qualidade apreciada em outros países, nos quais o acesso a recursos amplia as oportunidades de pesquisa, sem que o profissional precise ficar extremamente preocupado com a obtenção de verba ou a restrição de possibilidades de estudo devido à pouca disponibilidade de capital.
Camila Mont’Alverne pretende continuar a trabalhar no exterior, mas ainda tem como principal interesse de pesquisa o Brasil, com a realização de dois projetos sobre eleições. Um deles está inserido no Trust in News e trata do relacionamento entre o consumo de notícias, a confiança nelas e o partidarismo durante o período eleitoral brasileiro. Já o segundo estuda o impacto da desinformação na polarização e em um ambiente político controverso.